Baú de recordações

Ontem, foi dia de arrumações cá por casa. Pelo meio encontrámos uma caixa onde guardámos recordações nossas de há muito tempo, muitas cartas, postais... Sim, nós somos do tempo em que não havia telemóveis nem MSN e então escrevíamos infinitas coisas uma à outra.

É muito bom recordar esses dias, em que apesar do nosso amor, a vida não era assim tão cor-de-rosa. Ao ler as nossas promessas, hoje cumpridas, deu-me vontade de partilhar um pouco de como tudo começou, talvez possa servir de alento para quem tem receio de enfrentar certos medos.

Nós éramos duas colegas de escola, eu com 19 anos e a AD com 16, a nossa forte amizade foi evoluindo para um grande amor. Ingenuamente, divulgámos às nossas famílias a nossa relação, o que fez com que durante cerca de um ano tivéssemos que viver o nosso amor clandestinamente, esperando que a AD completasse 18 anos e nesse mesmo dia pudéssemos viver juntas.

Tinha um pequeno calendário, que ainda hoje guardo, em que riscava cada dia doloroso que passava. Até lá, tentávamos contornar as dificuldades para nos vermos, estudámos e trabalhámos para que pudéssemos concretizar o nosso sonho. Sou bastante céptica, mas tudo jogou a nosso favor, em pouco tempo conseguimos alugar uma casa, encontrar alguém que nos compreendeu e aceitou ser fiador de duas miúdas, e no dia 15 de Junho de 1991, dia em que a AD completou 18 anos, mudámo-nos para a nossa casa.

Hoje, lemos as nossas cartas em que prometíamos daí a muitos anos estarmos as duas na nossa casa a lê-las e não consigo deixar de me emocionar. Acreditem sempre, os sonhos concretizam-se, nós somos a prova disso.